- A detenção, há duas semanas, de Arlindo Chissale, em Cabo Delgado, foi mais do que uma simples privação de liberdade de um jornalista. Foi, isso sim, a continuação do autoritarismo do Estado contra a imprensa independente e qualquer pensamento livre, um quadro sombrio que se vem agravando desde que Filipe Nyusi chegou ao poder. Cabo Delgado é apenas o exemplo mais flagrante desse fechamento do espaço cívico em Moçambique.
Arlindo Chissale, do portal online “Pinnacle News”, foi detido por forças governamentais, no dia 25 de Outubro, no distrito de Balama, parte sul de Cabo Delgado, a martirizada província que, desde 5 de Outubro de 2017, é o epicentro de uma guerra em parte explicada por mais de 45 anos de má governação da Frelimo e um subdesenvolvimento que empurrou milhares de jovens ao desespero, tornando-os presas fáceis para recrutamentos por grupos de extremistas violentos.
A informação tornada pública após a detenção de Arlindo Chissale indicava que o jornalista havia sido flagrado a captar imagens de instituições públicas do distrito de Balama, o que as autoridades terão interpretado como um acto com fins obscuros. Mas, aproximadamente 10 dias após a detenção do jornalista, que foi mantido incomunicável, em grosseira violação dos seus direitos, o Ministério Público, em Cabo Delgado, fez saber que Arlindo Chissale foi detido em conexão com um crime de terrorismo, com particular destaque para a recolha de informação para a prática de actos terroristas.